Monte Rinjani: o gigante adormecido da Indonésia e seus perigos ocultos

A trágica morte da turista brasileira Juliana Marins nesta semana ao tentar escalar o Monte Rinjani, na Indonésia, acendeu um alerta para os aventureiros que sonham em conquistar o cume deste imponente vulcão. Com paisagens de tirar o fôlego e uma jornada desafiadora, o Rinjani atrai milhares de pessoas todos os anos, mas esconde perigos que exigem respeito, preparo e, acima de tudo, cautela.

Em homenagem à memória da viajante e como forma de conscientização, este guia completo detalha tudo o que você precisa saber sobre o Monte Rinjani, seus encantos, suas dificuldades e os riscos inerentes à sua escalada.

O Gigante de Lombok: Um Vulcão Sagrado e Ativo

O Monte Rinjani, ou Gunung Rinjani, é o segundo vulcão mais alto da Indonésia, com seu cume atingindo impressionantes 3.726 metros de altitude. Localizado na ilha de Lombok, ele faz parte do Parque Nacional do Monte Rinjani e é considerado um local sagrado tanto por hindus quanto pelo povo Sasak, a etnia majoritária da ilha.

Dentro de sua vasta caldeira, de aproximadamente 50 quilômetros quadrados, encontra-se o magnífico lago Segara Anak (“Filho do Mar”), de águas azul-turquesa. No meio do lago, um novo e ativo cone vulcânico, o Monte Barujari, expele fumaça constantemente, um lembrete visual de que a montanha está geologicamente ativa. A última erupção significativa ocorreu em 2016.

A Jornada ao Topo: As Rotas de Trekking

A escalada ao Rinjani não é um passeio no parque. Geralmente, a jornada dura de 2 a 4 dias, dependendo da rota escolhida e do objetivo final (chegar à borda da cratera ou ao cume). As duas rotas mais populares são:

• Via Sembalun: Esta é a rota mais comum para quem deseja alcançar o cume. Começa com uma caminhada por uma savana exposta ao sol e se torna progressivamente mais íngreme. O ataque final ao cume é a parte mais desafiadora, iniciando durante a madrugada em um terreno de cascalho vulcânico solto.
• Via Senaru: Frequentemente utilizada para a descida, esta rota atravessa uma densa floresta tropical. Embora ofereça mais sombra, é igualmente íngreme e pode ser escorregadia, especialmente na estação chuvosa.

Independentemente da rota, a experiência envolve acampamentos em locais designados na montanha, com vistas espetaculares das estrelas e da paisagem circundante.

As Dificuldades e Perigos: O Que Você Precisa Saber

A beleza do Rinjani vem acompanhada de uma série de desafios e perigos que não devem ser subestimados. O recente acidente com a turista brasileira, que teria caído em um barranco durante a descida, é um trágico lembrete desses riscos.

1. Terreno Traiçoeiro e Exaustão: A trilha é longa, íngreme e implacável. O trecho final para o cume é particularmente notório: um caminho estreito e escorregadio de areia e pedras vulcânicas, onde a cada dois passos para frente, se desliza um para trás. A exaustão física é um fator de risco significativo, podendo levar a erros de julgamento e quedas.

2. Mal da Altitude (Soroche): Com o cume a mais de 3.700 metros, o mal da altitude é uma ameaça real e pode afetar qualquer pessoa, independentemente do preparo físico. Os sintomas incluem dor de cabeça, náuseas, tontura e fadiga extrema. Em casos graves, pode evoluir para edema pulmonar ou cerebral, condições potencialmente fatais.

3. Condições Climáticas Imprevisíveis: O clima na montanha pode mudar drasticamente e sem aviso. Temperaturas podem cair para perto de 4°C no cume, com ventos fortes que aumentam a sensação de frio. Neblina densa pode surgir repentinamente, reduzindo a visibilidade a quase zero e tornando a navegação perigosa. Tempestades e chuvas intensas também são comuns, especialmente fora da estação seca (abril a outubro).

4. Riscos de Queda: As trilhas são, em muitos pontos, estreitas e margeiam penhascos e ravina profundas. Um passo em falso, especialmente em condições de baixa visibilidade, cansaço ou terreno escorregadio, pode ter consequências fatais.

5. Atividade Vulcânica e Sísmica: O Rinjani é um vulcão ativo localizado no “Círculo de Fogo do Pacífico”, uma área de intensa atividade sísmica. Em 2018, um terremoto na região provocou deslizamentos de terra na montanha, prendendo centenas de turistas e causando mortes.

Histórico de Acidentes

A morte da turista brasileira não é um caso isolado. Nos últimos anos, o Parque Nacional do Monte Rinjani registrou diversas fatalidades e acidentes envolvendo turistas de várias nacionalidades, com as causas mais comuns sendo quedas, hipotermia e exaustão.

Como se Preparar e Minimizar os Riscos

Apesar dos perigos, é possível realizar a escalada do Rinjani de forma mais segura com planejamento e responsabilidade.

• Contrate Guias e Carregadores Certificados: É obrigatório e essencial. Guias locais experientes conhecem o terreno, as condições climáticas e os procedimentos de segurança. Os carregadores levam equipamentos, comida e água, permitindo que você se concentre na caminhada.
• Prepare-se Fisicamente: A escalada exige um bom condicionamento cardiovascular e força nas pernas. Treine com caminhadas longas e em terrenos íngremes antes da viagem.
• Aclimate-se à Altitude: Se possível, passe alguns dias em altitudes mais elevadas antes de iniciar a subida. Durante a trilha, caminhe devagar (“pole pole”, como dizem os locais), beba muita água e preste atenção aos sinais do seu corpo.
• Use Equipamentos Adequados: Invista em boas botas de trekking, roupas em camadas (incluindo casaco corta-vento e impermeável), luvas, gorro, protetor solar e, fundamentalmente, uma lanterna de cabeça de boa qualidade para o ataque ao cume.
• Viaje na Estação Seca: Evite a estação chuvosa (geralmente de janeiro a março), quando as trilhas estão mais perigosas e o parque pode fechar.
• Faça um Seguro Viagem: Certifique-se de que seu seguro viagem tenha cobertura para trekking em altitude e evacuação de emergência.
• Respeite Seus Limites: Não hesite em voltar se não estiver se sentindo bem. O cume é opcional, a segurança é obrigatória.

O Monte Rinjani é uma maravilha da natureza que oferece uma das experiências de trekking mais gratificantes do Sudeste Asiático. No entanto, a montanha exige respeito. Estar ciente dos perigos e se preparar adequadamente é o primeiro e mais importante passo para uma aventura inesquecível e, acima de tudo, segura.