Pesquisadores temem que linguagem pseudotécnica seja usada para enganar consumidor. Eles desbancaram de produtos de limpeza que diziam matar germes a lâmpadas antiasma.
Quando a bióloga Harriet Ball notou que um popular iogurte enriquecido com vitamina B fabricado pela Nestlé prometia “otimizar a liberação de energia”, ela ficou desconfiada. Por isso, telefonou para a empresa para perguntar exatamente como isso funcionava. De acordo com Ball, o representante da Nestlé disse que o iogurte iria “pegar a melhor nutrição de seus alimentos e dirigi-la para as áreas corretas”, mas não foi capaz de oferecer nenhuma comprovação dessa afirmação.
“É possível que a Nestlé tenha descoberto algum efeito especial que ocorre quando se consome essa mistura específica de vitaminas B em seu iogurte”, disse Ball. “Mas não há nada na literatura científica que sugira isso”. Ball faz parte de um grupo de mais de duas dúzias de cientistas britânicos que ficaram fartos das afirmações aparentemente falsas dos anunciantes e começaram uma campanha para desmascarar a falsa ciência. No mês passado, os cientistas publicaram um relatório contando seus encontros com 11 empresas.
“Há apenas alguns produtos que nos incomodaram em particular”, disse Alice Tuff, coordenadora do grupo Voice of Young Scientists (Voz dos Jovens Cientistas). Usar alegações exageradas para vender produtos não é algo novo. Mas os cientistas temem que os anunciantes estejam usando linguagem cada vez mais pseudotécnica como forma de ludibriar os consumidores.
Em alguns casos, os cientistas afirmam que a pseudociência foi utilizada para gerar alarme quanto a uma suposta ameaça à saúde sem que houvesse qualquer evidência que a comprovasse. Em um caso recente documentado pelo grupo, a autoridade britânica que regulamenta a propaganda determinou que a empresa de cosméticos francesa Clarins havia alarmado desnecessariamente as pessoas quanto ao perigo de ondas eletromagnéticas ao anunciar o seu spray “Expertise 3P”.
A Clarins afirmava que seu spray protegia a pele contra poluição e contra os efeitos de ondas eletromagnéticas artificiais. Seus anúncios afirmavam que o spray “deixa um véu invisível e altamente protetor na pele para proteger sua juventude e radiância” –- mas autoridades da empresa não responderam às ligações perguntando sobre o funcionamento do produto.
A radiação eletromagnética está naturalmente presente no meio ambiente e também é produzida por fornos de microondas, poluição e fumaça de cigarro. A autoridade responsável por regulamentar os anúncios julgou que a Clarins não podia provar que seu spray protegeria contra radiação.
“Os anúncios fizeram um apelo indevido aos temores dos consumidores”, escreveu a autoridade sobre sua decisão, explicando que Clarins não tinha qualquer prova de que ondas eletromagnéticas pudessem danificar a pele. No caso da empresa suíça Nestlé, a porta-voz da companhia, Samantha Fulton, disse à Associated Press que seu iogurte “provê as vitaminas e minerais envolvidos nos ciclos de produção de energia do organismo”, mas não mostrou nenhum estudo que comprovasse sua declaração.
A Voice of Young Scientists (Voz dos Jovens Cientistas) é parte da Sense About Science (Bom Senso sobre a Ciência), uma organização sem fins lucrativos que promove uma melhor compreensão da ciência junto ao público em geral. No passado, a organização já havia criticado celebridades que promovem causas usando afirmações científicas bizarras e desprovidas de qualquer fundamento. No ano passado, a instituição repreendeu severamente Madonna por sua tentativa de “neutralizar a radiação” usando fluidos místicos da Kabbalah que supostamente descontaminariam lixo nuclear na Ucrânia.
Na falsa campanha publicitária, o grupo descobriu que nenhuma das empresas investigadas tinha provas para apoiar suas suposições. Os produtos foram de um agente de limpeza que supostamente eliminaria parasitas do corpo a lâmpadas de sal do Himalaia, que teoricamente aliviariam a asma. “Algumas pessoas com as quais falamos negaram sua responsabilidade”, escreveram os cientistas em seu relatório. “Outras foram capazes de relacionar suas afirmações à ciência, ainda que a ciência fosse de uma galáxia muito, muito distante”.
Tuff declarou que não estavam tentando expor as empresas intencionalmente. “Tudo o que queríamos era chegar às comprovações”, disse ela. “Ficamos bastante chocados quando não encontramos nenhuma”.
Óptimo artigo. Se puder, dê uma vista de olhos neste artigo: http://www.mercadologia.org/pacote-de-sonho-com-produto-incluido-parte-ii/
A Comissão Europeia pretende colocar um travão aos exageros na publicidade.
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