Aletp - Alessandro Temperini

Polarização Política no Brasil: Riscos para a Democracia?

Hoje analiso dados, estudos e tendências para entender como chegamos até a polarização política atual — e o que pode estar por vir.

A pergunta que dá título a esta postagem, é uma pergunta muito pertinente e profunda nos dias atuais, afinal, a polarização política é um fenômeno que vem ganhando força em diversas partes do mundo, e entender suas causas, consequências e possíveis desdobramentos é essencial para qualquer cidadão preocupado com o futuro da democracia.

Tenho amigos que se dizem de Direita, e tenho amigos que se dizem de Esquerda. E com eles não falo sobre política pois não há diálogo. Talvez lendo essas linhas, eles entendam que minha posição é pelo Brasil, e não pelo candidato A ou B ou pela ideologia X ou Y.

Vou fazer pequenos recortes de pensamento para não ficar um texto maçante. Então, vamos por partes:

A polarização política é o processo pelo qual a opinião pública se divide em polos opostos e cada vez mais distantes entre si. Nesse cenário, há uma tendência de enxergar o mundo em preto e branco: “nós contra eles”, com pouca disposição ao diálogo e à construção de consensos.

Alguns fatores contribuíram para o início e continuam a inflar essa polarização, são eles:

Redes sociais e bolhas de informação

  • As redes sociais ampliaram a visibilidade das opiniões e facilitaram a criação de bolhas ideológicas: grupos que consomem apenas conteúdo que reforça suas crenças.
  • O algoritmo privilegia conteúdo emocional e polarizador, porque gera mais engajamento.

Desconfiança nas instituições

  • Escândalos de corrupção, crises econômicas e desigualdade social alimentam a percepção de que as instituições tradicionais falharam.
  • Isso cria espaço para lideranças que prometem “romper com o sistema” (outsiders), geralmente com discursos mais radicais.

Simplificação de narrativas

  • Em tempos complexos, as pessoas tendem a buscar soluções simples. Discursos extremos costumam oferecer respostas fáceis para problemas difíceis.
  • Isso se reflete no apoio a ideologias radicais, tanto à direita quanto à esquerda.

Exemplos internacionais

  • Nos EUA, a disputa entre Democratas e Republicanos se intensificou a partir da década de 1990 e se radicalizou com figuras como Donald Trump.
  • No Brasil, desde 2013 vimos uma crescente radicalização do debate político, acelerada por eventos como o impeachment de Dilma Rousseff, a Operação Lava Jato e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

Claro que essa polarização traz malefícios para o cotidiano da população, alguns inclusive, com um grau de gravidade preocupante. Cito como exemplos:

Enfraquecimento da democracia

  • Oponentes políticos passam a ser tratados como inimigos.
  • A negociação política é demonizada, dificultando a governabilidade e o funcionamento do Legislativo.

Radicalização e violência

  • A polarização extrema pode levar à violência verbal, social e até física.
  • Casos de agressões por motivos políticos se tornaram mais frequentes.

Desinformação e fake news

  • A guerra de narrativas alimenta notícias falsas, dificultando o acesso da população à verdade.

Paralisia política

  • Quando os dois lados se recusam a cooperar, reformas importantes são bloqueadas, prejudicando o desenvolvimento do país.

Em níveis moderados, a polarização pode trazer benefícios, como:

  • Engajamento político maior: mais pessoas passam a discutir política e se posicionar.
  • Clareza de propostas: os eleitores têm mais noção das diferenças entre os projetos de poder.
  • Renovação política: em alguns casos, a polarização pode enfraquecer estruturas viciadas, abrindo espaço para novas lideranças.

Mas esses benefícios desaparecem por completo quando a polarização se torna tóxica e impede o diálogo, a convivência e o respeito mútuo.

Os cenários são até amplos, mas os mais prováveis são:

Continuação da polarização: se não houver reformas políticas e educacionais, o cenário pode se manter ou piorar.

Fragmentação democrática: enfraquecimento das instituições e do Estado de Direito.

Autoritarismo: em alguns casos, a polarização é usada como justificativa para medidas autoritárias (ex: censura, repressão a opositores).

Reação democrática saudável: há também a possibilidade de surgimento de movimentos que busquem o centro, o diálogo e a reconstrução da confiança institucional.

Sim, a democracia está em risco quando:

  • Não há mais espaço para o dissenso.
  • A liberdade de imprensa é atacada.
  • O Judiciário e o Legislativo são deslegitimados sistematicamente.
  • A população perde confiança nas eleições e nas instituições.

Mas a democracia também tem resiliência. Ela pode se fortalecer por meio de:

  • Educação política
  • Transparência institucional
  • Reformas que combatam desigualdade
  • Apoio a uma imprensa livre e responsável

Bem simples.

A polarização política é resultado de um conjunto de fatores sociais, tecnológicos e históricos. Embora possa trazer engajamento e clareza em momentos específicos, seus efeitos negativos — como a radicalização, o ódio e o enfraquecimento da democracia — geralmente superam os benefícios.

Aqui não cito extrema direita ou extrema esquerda, não coloco nenhum lado como culpado ou inocente, somente afirmo que a polarização não é o caminho para nós aqui no Brasil (no mundo na verdade).

A seguir, compartilho dados relevantes, pesquisas, gráficos e fontes confiáveis para te ajudar a se aprofundar no tema da polarização política e seus impactos — especialmente no Brasil, mas com comparações internacionais também.

Desconfiança nas instituições (Fonte: Latinobarómetro 2023)

Apenas 26% dos brasileiros confiam no Congresso Nacional.
O Judiciário é confiável para 32% da população.
A confiança nos partidos políticos é ainda menor: 12%.
• Em contraste, as Forças Armadas têm níveis de confiança maiores (55%), mas esse número caiu desde 2018.

Partisan divide (Fonte: Pew Research Center, 2022)

• 90% dos republicanos e 87% dos democratas dizem que discordam fortemente da visão do outro partido.
• Mais de 70% de cada grupo diz que o outro partido representa uma ameaça à nação.

Confiança nas eleições (Gallup, 2023)

• Após as eleições de 2020 nos EUA, só 33% dos republicanos disseram confiar no sistema eleitoral.
• Nos anos 2000, esse número girava em torno de 70%.

Índice de Democracia – The Economist Intelligence Unit (2024)

• O Brasil é classificado como “democracia com falhas” e caiu no ranking global, ocupando a 54ª posição entre 167 países.
• Fatores como polarização extrema, ataques às instituições e desinformação são citados como causas.

Freedom House (2024)

• O Brasil recebeu nota 67/100 em liberdade política e civil (queda em relação a 2010, quando era 81/100).
• Os EUA também estão em queda: 83/100, principalmente pela erosão da confiança nas eleições e ameaças a jornalistas.

Relatório “Democracies Under Stress” (IDEA, 2022)

• Identifica a polarização como uma das maiores ameaças às democracias modernas.
• Cita o Brasil, Índia, Turquia e Hungria como exemplos de países onde a polarização é usada como ferramenta política.

Estudo FGV/DAPP – “O impacto das redes sociais na radicalização do discurso” (2022)

• Após 2018, o número de menções a termos como “comunismo”, “ditadura”, “guerra cultural” e “inimigos do Brasil” cresceu mais de 300% nas redes sociais.
• A polarização digital é incentivada por grupos organizados, que criam narrativas para alimentar o “nós contra eles”.

Sei que as pessoas perderam o hábito da boa leitura de um livro mas, quem sabe depois ver os fatos acima, um desses livros abaixo não pode ser uma opção para voltar a ler um livro.

1. Como as Democracias Morrem – Steven Levitsky e Daniel Ziblatt

Fala sobre polarização e erosão institucional.

2. A Política do Ressentimento – Katherine Cramer

Explica a raiva política nos EUA (totalmente aplicável ao Brasil de hoje)

3. O Povo Contra a Democracia – Yascha Mounk

Tem como tema o populismo e as ameaças democráticas

4. Democracia em Risco? – Vários autores (org. Leonardo Avritzer)

Análise do cenário político brasileiro recente

5. Polarização Política: conceitos, causas e consequências – Emerson Urizzi Cervi

Análise teórica e empírica da polarização no Brasil

Não gosto de ler, prefiro assistir a filme ou série na Netflix. Tudo bem, tem conteúdo para isso lá também, seguem sugestões:

1. “O Dilema das Redes” (Netflix)

Mostra como os algoritmos incentivam a polarização e a desinformação.

2. “Democracia em Vertigem” (Netflix)

Visão pessoal da crise política brasileira de 2013 a 2018.

2. “The Social Dilemma” (YouTube/Netflix)

Especialistas mostram o impacto das redes na radicalização política.

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Que esse conteúdo sirva para você ter uma boa conversa com seu amigo que pensa diferente de você.

Ouvi uma frase essa semana que era dita pelo ex-presidente dos EUA Eisenhower, e ela carrega muito significado sobre tudo que foi dito aqui:

E antes que comecem os comentários raivosos e ofensivos, lembrem-se: “Opinião refere-se ao julgamento pessoal, ponto de vista ou parecer sobre um assunto, sendo algo subjetivo que não requer comprovação.”

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