Semana retrasada terminei de ler o livro Presos que Menstruam, da jornalista Nana Queiroz. O livro traz à tona a realidade dos presídios femininos no Brasil, e o tratamento dado às mulheres dentro desse sistema carcerário. Nada diferente do que pensava, um tratamento exatamente igual ao dado aos homens, esquecendo que muitas estão grávidas, precisam de papel higiênico para duas idas ao banheiro e, que menstruam. Com isso, a luta diária das mulheres encarceradas no Brasil é por higiene e dignidade.
Basicamente, Nana Queiroz, que em 2014 criou a campanha “Não Mereço Ser Estuprada”, visita os presídios e conversa com as presas, em determinado momento, consegue fazer a visita não como jornalista, mas como amiga de uma das presas, justamente para sentir na pele a realidade vexatória pela qual passam amigos e familiares das encarceradas.
O livro me marcou bastante, em quase todos os capítulos há histórias de crianças, nascidas ou não dentro dos presídios. Essas crianças são retiradas de suas mães aos 6 meses e só a sorte pode olhar por elas.
O último livro que havia lido sobre o tema foi Carandiru, de Dráuzio Varela, há bastante tempo, mas não me lembro de ter ficado tão mal a cada capítulo.
Comida podre, fria ou bichada, tortura policial, superlotação, péssimas condições de higiene e abandono por parte da família, é comum tanto nos presídios para homens quanto no para mulheres. Mas a falta de absorventes íntimos, que as faz recorrer a miolo de pão enrolado com linha, a maternidade e o total abandono por parte dos cônjugues, é uma realidade que faz o cárcere feminino ser muito mais danoso psicologicamente e fisicamente. Em uma passagem do livro, se constata que o homem quando preso tem a família (mulher e filhos) o esperando do lado de fora. No caso das mulheres, os primeiros a sumir são os companheiros.
Os crimes cometidos pela grande maioria delas são os conhecidos como “de suplementação de renda”, ou seja, normalmente o tráfico de drogas. Apenas 6% dos crime cometidos pelas mulheres são violentos. E muitas delas estão presas justamente por causa de namorados e maridos. Foram pegas tentando entrar com celulares ou drogas ao visitarem o companheiro preso. Claro que há sequestradoras, homicidas, etc… mas o número é muito inferior se comparado aos homens, inclusive os menores de idade.
Eu recomendo a leitura não somente para conhecer e tentar entender a realidade dessas presas, mas principalmente para constatar que o sistema carcerário está errado na sua essência. Ele é totalmente punitivo e não visa a reabilitação (o que já havia constatado em Carandiru). No caso das mulheres há um outro agravante, a esfera que as julga é a criminal, que não é ligada de nenhuma forma à esfera da família, que julga o caso dos filhos das presas. Isso normalmente resulta no afastamento definitivo de mãe e filhos que são colocados no sistema de adoção. A esfera da família, na maioria das vezes, nem sabe que a mãe está presa, acredita que ela não responde às notificações enviadas para comparecer ao conselho tutelar por exemplo, simplesmente pelo descaso, o que leva a erros gravíssimos.
Uma parágrafo do prefácio da autora, resume bem o que você vai encontrar nas páginas do livro:
“É fácil esquecer que mulheres são mulheres sob a desculpa de que todos os criminosos devem ser tratados de maneira idêntica. Mas a igualdade é desigual quando se esquecem as diferenças. É pelas gestantes, os bebês nascidos no chão das cadeias e as lésbicas que não podem receber visitas de suas esposas e filhos que temos que lembrar que alguns desses presos, sim, menstruam”.
O livro físico, da Editora Record, tem 292 páginas. Eu li no formato eBook no Kindle pelo sistema Kindle Unlimited.
P.S.: O livro vai virar filme. O longa-metragem de ficção homônimo será feito pela autora junto com a Of Produção Cultural e as filmagens estão programadas para começar ainda neste ano de 2016. Uma outra informação que está na imprensa, é que a autora pretende vender os direitos para uma série, Netflix por exemplo. Alguns dizem ser o “Orange is the New Black” brasileiro, mas a principal diferença é que aqui não seria uma comédia como a série norte-americana, e sim, um drama.
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